Lust for life

Leia sempre o texto Lust for life, que é nosso primeiro post, antes de participar.

sábado, dezembro 22, 2007

Reminiscências

Lá estava ela, jazida em minha cama, coberta por um fino tecido branco que descobria parte de sua coxa esquerda. Como, mesmo após 20 anos ela permanecia linda? Como queria ter forças para degustá-la. Como ela estava deliciosa. Como ela estava fácil.

Suspirou. Acordou. Olhou-me nos olhos. " vens pra cama?"; "Vou, mas antes preciso tomar um banho". Cobriu-se toda com o fino tecido branco e voltou a dormir. fiquei lá, em pé diante do que era pra ser meu grande amor. De fato sabia, não era. Não mais a amava, talvez jamais a amei, se algo houve foi o tesão que tornou-se paixão e esta por sua vez cegou-me durante vinte anos. Mas não mais. Hoje era o fim. O fim e ponto.

Banhei-me. Escovei meus dentes. Mas não fui deitar-me ao lado dela. Havia razões imensas para não mais dormir ao seu lado. Uma delas o cachorro, o filho que quis ter e ela nunca abriu mão do fato de não querer filhos, até cinco anos atrás, quando me disse que podíamos adotar um. Adotar um, Já tinhámos uma ameba em casa que não parava de abanar o rabo toda vez que voltava do serviço. Ela quis a porra do cachorro nos primeiros anos de casamento - nunca nos casamos, fomos morar juntos, ou o que quer que seja. Casamento. Seis meses sem sexo até eu ceder e comprar a porra do Fox paulistinha, cachorro que ela adorava, porém não levava para passear, não o nutria, não o lavava, não limpava sua merda, suas urinas, claro eu as limpava. Eu o nutria. Eu saia com ele as nove horas da noite, exausto depois de uma imensa jornada de trabalho. Eu odiava o cachorro. Ele me amava.

Pra que raios um filho adotivo agora?! Adotivo!!! Eu que sempre o quis. E sempre tive que colocar a merda da camisa de Vênus no meu pau porque ela não gostava das pílulas. Porque ela não queria engordar. Porque ela não queria sentir-se "suja" por dentro. Ela não queria meu sêmem em sua buceta. Puta! Era uma puta, sempre foi. Um filho. Adotivo... ah... vagabunda. Vagabunda! Esta foi para mim a razão que eu necessitava para deixá-la.

Caminhando cabisbaixo veio o cachorro lamber minha perna. Sabia que algo acontecia. Devia ter chutado aquela ameba, inves de pegá-lo no colo. Será que ama-se com o tempo? Não a amava, mas tinha um carinho especial por ela. Mais do que eu podia imaginar, mas o carinho... o carinho acaba. E hoje eu sei, acabou. Como eu queria poder amá-la. Como eu queria poder dizer sim à este filho.

...

Ontem ela me ligou. Sua mãe havia morrido. Queria-me no velório. Há quinze anos não a via. Há quinze anos esperei por um telefonema, por um email, por qualquer forma de comunicação. Mas a morte tem suas artemanhas, pôs-me em contato com Ela. Ela quem sempre amei. Ela, com quem tive uma única noite. Ela que era minha amiga e minha vontade de vida. Sim, claro que eu iria, que eu fui e jamais voltei.

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