Ela

Caríssima,
Não sei como pude ficar este tempo todo sem você, sei que você tem um faro para a mediocridade e esta missiva transpira mediocridade, no entanto, tenho de deixar claro uma coisa: não sei viver sem você.
Sei que o meu fascínio por mais de uma mulher tem matado nosso relacionamento, mas tento, sem muito sucesso, a mutiplicação dos pães, diga se de passagem a mutiplicação das mulheres.
Algumas coisas têm sido em vão, querida, minhas promessas de ficar longe de tudo que você odeia, mas não dá; odeio este texto estruturado em adversativas, mas não tem outro jeito, assim como não fujo de tudo que você odeia, não fujo das adversativas.
Oh, o que você faz?
Queria falar da falta que você me faz, de como não ter dado aquele beijo, me deixou doente, de quantas noites, eu não dormi, por pensar naquele beijo, por dormir naquele beijo.
Tudo tem me irritado, ultimamente, qualquer barulho, qualquer palavra, estou ilhado.
Oh, como este texto chinfrim deve ofendê-la no seu purismo lingüístico, porém, não há outro caminho, estou em franca descida, declínio, só você pode me curar.
Serei ridículo publicando estas coisas que me são tão caras, pois vem de um lugar indesvendável para muitos, que sempre se abre para você.
Oh, como te odeio, por mais tente ser eu, odeio-te, por te querer, por me fazer ter inquietações que são dadas somente ao sexo feminino, como você me desarma.
Seu poder é o de me desabrochar tal qual margarida na primavera.
Chega
Grande beijo,
Eu