Pra não dizer que não falei de flores.

O último final de semana foi pra esquecer, entretanto será difícil esquecer essa eleição. Poucas vezes se viu tanta bizarrice eleita. Poucas vezes me senti tão mal por causa de política. Estava até decidido a abandonar o blog, não havia condições de falar sobre amenidades, o único sentido parecia ser mudar o mundo de alguma forma. Uma revolução. Lavagem cerebral. Milagre. Suicídio coletivo. Não, não havia solução pra tamanha angústia, estava tudo fodido.
Porém, e sempre há um porém, fui arrebatado pela beleza das flores. As flores salvaram minha segunda-feira e, conseqüentemente, minha semana. Flores tão doces e sutis quanto suas donas.
Lembrei-me delas quando estou sentado em minha mesa, sem fazer nada, e elas, aos borbotões, aconchegam-se ao meu lado e aproximam suas juvenis flores a mim, algumas chegando até a rencostá-las em meu ombro. E se eu as olho com um olhar de reprovação ( deus, como é difícil) elas me sorriem um sorriso displicente.
Outro dia, uma das mais ousadas levou até minha mesa seu caderno pra eu vista-lo, postou-se ao meu lado direito, bem ao meu lado, enquanto examinava, sua florzinha e meu cotovelo confluíam-se, senti um calafrio na espinha e um nó no estômago. Continuei corrigindo de cabeça baixa, e à medida que ia examinando com a caneta vermelha em punho, deslizando-a sobre a folha, meu cotovelo aproximava-se de sua orquídea. Minha perna esquerda começou a tremer, alguém lá do fundo gritou: “O que é hipotenusa mesmo?”. Levantei, cocei a barba com a mãe direita, tentei dar-lhe a atenção devida. Quando voltei, ela estava sentada em minha mesa, ao lado esquerdo da cadeira que me sentaria, pedi para que se levantasse, dei-lhe parabéns, e pedi que voltasse ao seu lugar.

Dedicado a C.C.