Lust for life

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sexta-feira, janeiro 12, 2007

Estes nossos Pixotes

Meses antes de começar a lecionar no Estado, aventurei-me num projeto como professor voluntário para uma turma carente de tudo: afeto, carinho, amor, atenção, comida, água... trabalhei, ou tentei trabalhar um projeto qualquer de reforço. O pessoal que ficava comigo também nada sabia o que fazer. Para mantê-los na sala improvisada distribuia-se comida ao final da "aula". Jamais tinha tido contato com uma turma de alunos; aquela seria a minha primeira. Estava lá com dez alunos que pensavam em sair o quanto antes de lá, só queriam montar os cavalos (esta era a proposta da hípica, boas notas aprendizado de montagem, más notas fora), e eu pensava no que passar para eles: quais eram as dúvidas? As mesmas que as minhas? Estruturas frasais, redações... tudo nada era apreendido por eles. Não queiram estar lá. As favas com a Pedagogia!
Hoje ao caminhar pela rua me deparei com um destes meus alunos: Jonathan, aquele que nada quer com nada, aquele que por não gostar de arroz doce jogou-o fora. Eles estava vendendo balas no farol fechado, talvez este farol seja algum tipo de metáfora para a vida dele, e intrinscicamente a minha. Falhei eu com este guri? Não sei se ele me reconheceu, foi muito rápido. Deveria eu ter comprado umas balas? Ter-lhe pagado um almoço? Ter-me aproximado dele e dito qualquer coisa, o que?
Fiz o costumeiro, "disse não" virei-lhe a face para que não me reconhecesse depois e atravessei a rua. Voltar? Talvez ele nem se lembre de meu nome...
Outra vez um outro aluno meu de reforço, mas agora já era remunerado, nada tinha a ver com este, vem em minha direção no bar vender-me drops. Este me reconheceu, vi a expressão em seu olhar, só não sei defini-la se foi de vergonha por ver-me bêbado ou se por tê-lo visto vendendo drops. Sei que este nunca mais apareceu no reforço.
Isto não nos é ensinado em nenhum livro pedagógico. Como lidar com nossos alunos fora de nosso ambiente de trabalho. Professor não pode ser visto em bar. Padres podem, confessarão seus pecados diretamente com o "deus". E nós o que nos pode acontecer, piadas na segunda-feira.
Talvez não seja desculpas que deveria falar para ti Jonathan por não ter-lhe comprado as balas, por ter-lhe ignorado. O que deveria ter feito? Ao menos tinha de ter tido a dignidade de falar-lhe algo, perguntar-lhe sobre seus estudos. Mas não. Virei-lhe as costas. Mostrei-lhe a face mais obscura de minha humanidade: o descaso. Agora!!! desculpas de nada adiantaram. Nem a você nem ao outro garoto que me viu ébrio e nem a todos os alunos que dei de ombros.
O fato Jonathan não sei se ser professor é o que almejo., Sinto que meu coração hoje bate em síncope, da mesma forma que mandei 35 alunos da 7ª série para a puta-que-os-pariu, poderei repetir este ato, ou sair correndo de uma sala de aula para esconder minha inépcia como professor-educador-ou-seja-lá-o-nome, como cidadão. Mostrar-lhe o despresível ser que se formou para ganhar um trocado em cima de ti. Pouco me importando com teu futuro.
Droga garoto... se não pude ajudá-lo hoje o que ocorrerá quando, ao nos encontrarmos novamente, tu com uma arma apontada para minha cabeça? Dirás, caso me reconheças: "Você falhou comigo professor, não se importou. Assim como os demais..." e então desculpas não serão palavras suficientes para clamar pela minha estúpida existência.
Perdoa-me por hoje Jonathan, por ontem, pelo teu amanhã... porque eu não consigo me perdoar.

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